LUZES DE TOKYO

 

 

Muitas vezes idealizada

 

Pressentida

 

Reflexo de corredores internos

Becos onde ecoam o que

De mim

Nem eu sei

 

Eu?

Quem é esse ser…

Sigo meus rastros cidade afora

(e vejo que alguns deles já cá estavam)

O que foi e também o que está por vir resumem-se no

É

é…

 

Um amanhecer que trouxe

Além da luz

Sons, suspiros, sonhos

Mas para melhor definir o que sou agora

(melhor)

Aquilo em que converti-me

Teria que lançar grãos

Esses mesmos grãos que aqui colhi

Assim:

 

Lá, de onde venho

A vida também se faz em meio a concreto

Grama que nasce no meio do asfalto

Caminhos de pessoas fragmentadas que se cruzam

 

Acolá, para onde vou

Bom…

Lá é mais fácil

O que é difícil é entender

Por que então as pessoas não se deixam fragmentar?

 

Eu, aqui, naquele primeiro amanhecer

Fui invadido por um espreguiçar

Sutil leveza luminosa

Sorriso que tinge os poros

Impregna

Reflete

Transcende a capacidade da luz de

Iluminar

 

O que seria uma capacidade transitória?

Eu não tento vê-la

Simplesmente fecho os meus olhos

(e respiro)

Suspiro

 

Transpiro mesmo que não haja suor

(visível)

Estendo as minhas mãos

Ou traço mãos invisíveis

Que com a mesma sutileza esparramada

Irão tatear os sulcos traçados por esses trilhos

 

Até onde pode ir a plenitude do instante?

Até onde ela pode sorrir?

Sonhar…

 

E ao acordar

Olhar para o lado

(de dentro)

 

Fecho os olhos mais uma vez

Antes do despertar total

 

E sinto

 

Respiro

 

Vivo

 

O sonho já foi internalizado
Percorreu minhas entranhas

A mesma trilha onde já estão impregnados os rastros desta cidade.

Iluminados

 

E é tudo tão fácil

Né?

É…

 

Natural, profundo

E intenso

 

Como só poderia ser

Desde que mergulhei na poesia das luzes de Tokyo.

 

(texte créé dans le cadre d’une performance réalisée le 26 octobre 2006 à Tokyo et repris le 25 mai 2019, à l’occasion du salon de Belleville « CROSSING BORDERS »)